Dimas Perrin
Libertário
Dimas da Annunciação Perrin, nasceu em Conselheiro Lafaiete/MG. Filho de Domingos Perrin e Luiza de Deus Perrin. Formou-se em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1962. Como ele mesmo disse, participou de todas as lutas políticas em defesa da liberdade e da cidadania. Foi preso e torturado pela ditadura. Escreveu sobre o assunto no livro "Depoimento de um Torturado", de 1979. Foi Deputado Federal e Líder do PMDB. Uma grande personalidade de Minas Gerais, um libertário, com qual tive a honra de conviver, principalmente no período em que participamos dos movimentos de reação contra a privataria tucana.
DISCURSO PROFERIDO PELO DEPUTADO DIMAS PERRIN EM 30/10/1985, EM HOMENAGEM PÓSTUMA, EM NOME DO PMDB , AO JORNALISTA VLADIMIR HERZOG, PELOS DEZ ANOS DE MORTE NAS DEPENDÊNCIAS DO DOI-CODI, ÓRGÃO DO II EXÉRCITO DE SÃO PAULO.
O SR. PRESIDENTE (Celso Amaral) – Concedo a palavra ao Sr. Dimas Perrin, na qualidade de Líder do PMDB.
O SR. DIMAS PERRIN (PMDB-MG. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srs. Deputados, tenho a honra de neste momento falar em nome do PMDB. Acredito que a Liderança do meu partido me atribuiu esta tarefa em virtude de ser eu um dos sobreviventes das câmaras de torturas.
Realmente assumi comigo o compromisso de enquanto viver testemunhar o que ali acontecia, para que as gerações futuras não permitam que tais horrores voltem a acontecer.
Disse o Deputado Alberto Goldman muito bem: Vladimir Herzog hoje é um símbolo. E é mesmo o símbolo da luta que o povo travou para transformar o nosso País num lugar onde todo mundo pudesse ser feliz. É o símbolo da resistência de todos aqueles que tiveram a coragem de dizer não à v9iolência e que, diante das torturas, preferiram morrer com dignidade a viver sem ela. É o símbolo da luta dos que sobreviveram e que hoje estão aí, como alguns nobres colegas desta Casa que correspondem às aspirações do povo, porque elas precisam ser realizadas – e agora, mais do que nunca, em homenagem àqueles que foram sacrificados.
Senhores, só podem falar a verdade sobre o que aconteceu nas câmaras de tortura aqueles que por elas passaram. É impossível imaginar a que ponto a maldade humana chega, rebaixa-se e transforma bandidos em autômatos, com a única função de torturar e matar.
Senhores, o que me doía mais não era o que eu sofria, era saber que outros estavam sofrendo. Sou um homem de idade, e quanto a mim podiam fazer muita coisa, pois poderia ter desagradado ao governo, poderia ter desagradado muita gente. Todos sabiam dos meus princípios. Mas... e aqueles jovens conduzidos apenas por um idealismo puro, sem nenhum outro interesse. Eles queriam apenas a liberdade do País, queriam que o povo fosse feliz. E no entanto eram torturados até a morte – e os Senhores não imaginam como eram as torturas. Eram submetidos às maiores humilhações: os homens e as mulheres eram despidos e depois submetidos, dias e mais dias, semanas e mais semanas, aos choques elétricos, ao pau-de-arara, à agressões mais violentas às suas partes mais íntimas, que o pudor nos ensina a ocultar.
Senhores, não tenho rancor de ninguém. Estou de braços abertos, a mente arejada para contribuir com todos os brasileiros, mesmo com aqueles que fizeram parte da ditadura. Apenas faço restrição àqueles que torturaram ou apoiaram as torturas, que mataram ou apoiaram os assassinatos.
Vladimir Herzog é um símbolo, e dia virá, Senhores – e nisso que vou dizer não é ofensa a quem quer que seja, em que aqueles que foram sacrificados terão seu lugar no altar da pátria. Podem alguns ter cometido erros, enganos, mas tinham o ideal muito puro e aspiravam à liberdade.
O último apelo que faço, agora a V. Exa. é no sentido de que passem por sobre todas as contradições, todas as dúvidas que nos separam, até as siglas partidárias de todos que amamos a democracia, e que demos as mãos, somemos nossas forças e nos comprometamos uns com os outros, inclusive os colegas do PDS, e de todos os partidos, e assumamos o compromisso de lutar sempre para que nunca mais nossa pátria caia sob o tacão de uma ditadura.
Srs. Deputados, é isto é o que penso e o que digo, em nome do PMDB , partido que detém o maior número de perseguidos, cassados, punidos e torturados.
Neste momento e que relembramos a memória de Vladimir Herzog, que se tornou símbolo que nos há de conduzir à resolução das nossas diferenças dentro do diálogo e da convivência democrática, de tal maneira que amanhã todo o nosso povo, especialmente os trabalhadores, os mais sacrificados, tenham alegria de viver em nosso País, sem medo do dia de amanhã. (Palmas).
Discurso transcrito por José Roberto Del Valle Gaspar dos anais digitalizados do Congresso Nacional
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